sábado, 22 de dezembro de 2012

Assis Valente passou por isso...

Então o mundo não se acabou, né. Essas profecias que não se realizam causam o maior desgaste emocional, viu... Assis Valente passou por um vexame parecido no final dos anos 30. Versão moderninha do desastre que não aconteceu, cantada por Paula Toller.

O Mundo Não Se Acabou (Assis Valente)


Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fim

Confesso que estava ansiosa pela chegada do fim do mundo. Vivi intensamente, não me arrependo de quase nada e estou basicamente feliz com minha vida em geral. Quando o mundo acabar hoje, vou partir com um sentimento leve e tranquilo, minha única preocupação vai ser com alguma besteira do tipo, ter uma frase de impacto pra dizer na hora. Pra que nem sei, o mundo vai acabar mesmo. É só que eu gosto dessas coisas.

No entanto, até ontem eu estava cheia de questionamentos sobre esse tal fim do mundo. Primeiro eu queria saber se existia uma forma de ter certeza se os antigos Maias estavam realmente se referindo ao final dos tempos e não falando do fim do mundo tipo um lugar longe como a porra. Sei que é bobagem, mas imaginem aí? Todo mundo se preocupando com o fim dos tempos quando na verdade tudo que o cara queria dizer era simplesmente que iríamos finalmente chegar a um lugar. O fim de uma viagem longa pra lugar super distante, pro fim de mundo. Tipo a viagem que se faz em Salvador do Comércio até o Itaigara com o Mirante de Periperi. Mas logo, logo entendi que se tratava de um calendário, então era obviamente o fim dos tempos mesmo. Me poupe viu, Cris...

Mas então tá. É do apocalipse mesmo que estamos falando. Mas ainda me restava entender se era um evento pro dia inteiro ou se tinha uma hora específica pra acontecer. Se tivesse uma hora específica, onde aconteceria primeiro? Se tivesse uma espécie de plano do fim do mundo, estava listado em que site pra eu acompanhar? Bem, todas as respostas que eu precisava me vieram em um sonho e por isso acordei tranquila pra curtir o último dia da humanidade numa boa.

Obviamente o mundo vai acabar as 21 horas e 21 minutos de hoje, horário da Alemanha. Esse horário é simplesmente perfeito pro fim do mundo e fim de papo. Vai ser no horário alemão e por isso vai acontecer aqui primeiro. E vai ser assim porque a Alemanha é famosa por sua organização e pontualidade. O mundo vai acabar aqui no dia e hora marcada e sem bla, bla bla. Eu sugiro a todos que acertem seus relógios com o horário de Berlim e se o fim não chegar exatamente às 21:21 do dia de hoje, podem acabar com o mundo vocês mesmos. A Alemanha nunca se engana e com certeza o apocalipse aqui vai acontecer de forma ordeira, controlada e sem histeria. 

Situações caóticas do tipo gente perdida e desesperada correndo pela rua, coisas caindo do céu, pessoas sem saber se acaba ou não acaba, sendo pegas de surpresa por um terrível apagão em pleno engarrafamento, as operadoras de celular sobrecarregadas e ninguém conseguindo completar suas ligações são típicas de fim de mundo em outros lugares, mas aqui não. Pensando bem, esse cenário que eu acabei de descrever me lembra alguns momentos que eu já vivi em Salvador. Será que o mundo já acabou na capital baiana faz muito tempo em niguém soube de nada? Vou procurar saber e se o mundo ainda existir, amanhã eu conto.


Um excelente fim de mundo pra todos vocês!





 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Virando alemã - Parte II Nome Sujo

Onde eu estava mesmo? Ah tá, eu estava sentada na frente de uma funcionária bem sisuda no departamento de naturalização, tendo uma insana discussão sobre acentos. Quem ainda não sabe como essa estória começou, pode ler a primeira parte da estória aqui. Depois de ter mostrado minha certidão de casamento na tentativa de convencê-la de que meu nome nunca tinha sido escrito com um acento a tal funcionária insistiu que não poderia consertar meu nome e pronto e o motivo foi inacreditável.

Algum inseto alado (que deus o tenha) encontrou seu final trágico, provavelmente esmagado pelo peso de algum livro ou coisa semelhante (a exata causa mortis nunca será esclarecida) bem em cima de minha certidão de casamento. Em seus últimos momentos de vida, o pobre coitado teve parte de seu corpo arrancada. Onde ele foi parar, nunca saberei, mas um fragmento do que uma dia tinha sido sua asinha ficou alí, colado em meu documento e se alguém quisesse muito, poderia confundi-la com um acento. E parece que funcionária que me atendeu queria.

Insisti "isso é uma mancha" ao que a sisuda funcionária retrucou "é um acento". Depois de vários "é claramente uma mancha", "não, é óbviamente um acento",  o poder da autoridade venceu. Recebi um papel com uma série de instruções burocráticas que deveria seguir para ter meu nome corrigido, uma cópia da constituição alemã, um sorriso forçado porém aberto demais e um aperto de mão demasiadamente firme, acompanhado da seguinte frase :"Com isso te declaro cidadã alemã. Parabéns." Depois disso, a funcionária, que eu vou passar a chamar de Gretel pra facilitar, me estendeu o certificado com meu nome sujo e me deu um olhar que queria dizer "ok, este atendimento está encerrado. Por favor se retire pra que eu possa tomar meu café em paz".

Saindo dali, percebi que o tempo todo estava fazendo um esforço enorme para conter o riso diante do ridículo da situação inteira. Os motivos que Gretel achou pra se recusar a corrigir meu nome foram realmente surreais e pra mim foi como uma verdadeira comédia de erros. Fale sério: primeiro ela se recusa a corrigir meu nome porque existem acentos agudos pelo mundo. Depois porque o mesmo acento que eu estava me negando a aceitar constava no nome da cidade na qual meu marido nasceu e finalmente porque confundiu sujeira com acento. Na moral, essas coisas só acontecem comigo. Na saga kafkaniana que se seguiu até que eu conseguisse limpar meu nome, TODOS os funcionários para os quais tive de explicar minha situação deram muita risada às minhas custas e no final da saga uma delas me disse que Gretel foi uma filha da mãe por não ter corrigido minha certidão logo de cara. E disse mesmo "Minha colega foi bem intransigente, hein? Se eu tivesse lhe atendido teria corrigido. Uma coisa dessas se faz em menos de cinco minutos".

Bem, deixa pra lá. Vai ver que Gretel no fundo sabia que eu tenho um blog e que adoro contar estórias. O final desta, pelo menos é feliz. Voltei a ser Cristiane sem h, sem acento e sem inseto. De nome limpo, brasileira, baiana, soterolopolitana e ainda posso acrescentar, cidadã alemã de Bremen.

Meu kit alemã: caneca de cerveja (BierMass), camisa da seleção e meu novo passaporte.